domingo, 16 de dezembro de 2012





Minha prima Sofia teve a gentileza de me oferecer  uma "Seara Nova", o nº. 1423, de Maio de 1964, que o irmão Aquilino encontrou entre a "papelada" do Pai Aquilino. Já não me lembrava do artigo "Os Médicos e a Nação". Escrito há quase meio século!...






sexta-feira, 7 de dezembro de 2012




Recordando a minha primeira viagem a África como "médico de bordo" do navio "Amboim"

Para o Carlos Maciel com um apertado abraço!

 O Amboim



Dois anos após a minha formatura , suspendi o estágio no Hospital de Arroios, onde frequentava o serviço de medicina dirigido pelo Dr. Aníbal de Castro, e embarquei no navio Amboim, como "médico de bordo", assim realizando o meu desejo de visitar as nossas colónias, e ajuizar a possibiidade de futuramente concorrer  ao quadro médico ultramarino, nessa data uma das possibilidades de "viver da medicina". Tive o apoio do Comandante Bezerra, que  simpáticamente me recebeu nos serviços de pessoal da Companhia Colonial de Naveção. Recordo que passadas duas semanas depois do nosso primeiro encontro, me acompanhou à Capitania de Lisboa e  fez um "rol" do que devia adquirir para a viagem. Quando lhe referi o seu desconhecimento a meu respeito, respodeu: "Andei 30 anos no mar, conheço os homens como as minhas mãos!..." Era um homem afável que conservo entre as minhas relações inesquecíveis!
Fiz assim parte da equipagem do navio na sua primeira viagem na carreira de África, que teve início no dia 21 de Julho de 1949, e durou cerca de tres meses. Transportou  para Angola e Moçambique 32 passageiros, razão que obrigava a completar o número de oficiais de bordo com um médico. De Lisboa fomos a Leixões onde embarcaram 16 pescadores da Póvoa do Varzim, que durante a viagem para Lourenço Marques pintaram a sua traineira , a que deram o nome de Gabriel Teixeira, o Governador Geral de Moçambique nessa data.
Fiquei o conhecer Luanda, Lobito, Moçamedes, Cidade do Cabo, Lourenço Marques, a ilha de Moçambique, Beira e Porto Amélia.
Passado um ano  voltei a embarcar para outra viagem, desta vez às ilhas de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe e Angola, no navio/motor "Ganda" (irmão gémeo do Amboim).  Mas ambadonei a ideia de concorrer ao quadro médico do ultramar... Já recordei, num anterior blogue, esta viagem de 1950, no Ganda.




 
 No Amboim com o Capitão Sebastião de Caires, que viajava para Moçamedes, chefiando uma eqipa de topógrafos

 Com o Primeiro-piloto do Amboim defronte da Cidade do Cabo

Na Ilha de Moçambique sentado num "rickshaw"





Fotografia do "Amboim" que me foi amávelmente cedida pelo "Museu da Marinha"










Do blogue  -  "SHIPS & THE SEA - BLOGUE dos NAVIOS e do MAR"  -  clique aqui - de Luís Miguel Correia, reproduzo, com a devida vénia,  o texo e fotografias sobre o navio Amboim:
"O navio de carga-geral AMBOIM foi o terceiro de quatro cargueiros novos de cerca de 9.000 toneladas de porte bruto adquiridos pela Companhia Colonial de Navegação (CCN) em 1947 e 1948 ao abrigo do programa de renovação da frota de comércio portuguesa conhecido por Despacho 100.
Era exactamente igual ao GANDA, a que nos referimos no artigo anterior e foi construído também em Burntisland. Apresentava castelo de proa, dois mastros e uma chaminé baixa e comprida de navio-motor. Construído para a linha de África, além de carga geral transportava passageiros, dispondo de 10 camarotes com casa de banho privativa, um luxo para a época. Em muitas das viagens transportou nas cobertas indígenas moçambicanos contratados para trabalharem nas roças de São Tomé.
Com a fusão da Colonial com a Insulana em Fevereiro de 1974, ainda chegou a integrar a frota da CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, a nova empresa resultante da união das anteriores em 1974, mas perdeu-se por encalhe em Cascais em Novembro desse ano, devido ao mau tempo e nevoeiro, quando saia de Lisboa para o Mediterrâneo numa viagem que não completou. Durante a última estadia no Tejo foi pintado com as cores da CTM, isto é casco azul escuro, chaminé laranja com duas riscas azuis e uma amarela no meio.
O nome AMBOIM honrava a Companhia do Amboim, uma das três empresas que a 3 de Julho de 1922 constituíram a Companhia Colonial de Navegação no Lobito. O AMBOIM de 1948 foi o segundo navio com este nome na frota da CCN, sucedendo ao AMBOIM original, um navio misto de passageiros e carga com 3.611 TAB, construído em Hamburgo no ano de 1898 para a companhia HAPAG (Hamburg Amerika Linie), com o nome SARDINIA. Em 1914 refugiou-se nos Açores onde foi requisitado pelo Governo Português em Fevereiro de 1916. Serviu então os Transportes Maritímos do Estado com o nome S. JORGE até 1925, quando foi comprado pela Colonial, navegando com o nome AMBOIM até ser desmantelado na Holanda em Janeiro de 1933.
Navio de carga e passageiros a motor, construído de aço, em 1947-1948. Nº oficial: H 356; Indicativo de chamada: CSBY. Arqueação bruta: 5.895 toneladas; Arqueação líquida: 3.311 toneladas; Porte bruto: 9.419 toneladas; Deslocamento máximo: 13.114 toneladas; Deslocamento leve: 3.696 toneladas. Capacidade de carga: 5 porões servidos por 5 escotilhas, com 15.122 m3. Comprimento ff.: 135,00 m; Comprimento pp.: 128,75 m; Boca: 17,98 m; Pontal: 7,79 m; Calado: 8,21 m. Máquina: 1 motor diesel Doxford de 4 cilindros, com 5.074 bhp; 1 hélice. Velocidade: 14,00 nós (15.40 nós vel. máx.). Passageiros: 12 em 10 camarotes. Tripulantes: 32. Navio gémeo: GANDA. Custo: £415.150, cerca de 41.793.144$27.

O AMBOIM foi construído no estaleiro The Burntisland Shipbuilding Co. Ltd., em Burntisland, Escócia, (construção nº 314), por encomenda da Companhia Colonial de Navegação em 1946. A quilha foi assente a 25-02-1947 e o navio foi lançado à água em 12-12-1947 sendo madrinha a Srª. Dª. Maria Luísa Fontes Pereira de Melo Vieira. Entregue à CCN em Burnistland a 21-05-1948, o AMBOIM saiu no dia seguinte para Cardiff (25 a 29-05) para carregar carvão para o Tejo, onde entrou pela primeira vez a 1-06-1948. Registado em Lisboa a 3-06, saiu em 5-06 na primeira viagem a Galveston, onde carregou cereais para Leixões e Lisboa. A segunda viagem, foi igualmente aos EUA (Lisboa 3-08, New Orleans (16 a 28-08), Leixões (11 a 17-09), Lisboa 18-09). Na terceira viagem o AMBOIM foi ao Canadá. A primeira viagem na carreira de África teve início em Lisboa a 21-07-1949, seguindo a bordo carga e 32 passageiros, dos quais 16 pescadores para Luanda, Lobito e Lourenço Marques. Fez escalas em Luanda, Lobito, Moçamedes, Lourenço Marques, Beira, Moçambique e Porto Amélia regressando a Lisboa via Lourenço Marques, Cape Town, Moçamedes, Lobito e Luanda. Operou principalmente nas linhas de África Ocidental e Oriental. Em 1972 passou a escalar regularmente portos do Mediterrâneo no prolongamento da carreira da África Oriental e a 4-02-1974 foi transferido para a CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, por fusão da CCN com a Insulana. Em 11-1974 foi pintado com as cores da CTM, largando de Lisboa a 20-11-74 para Alicante na que seria a sua última viagem, pois ao desembarcar o piloto na baía de Cascais, aproximou-se demasiado de terra sob denso nevoeiro e perdeu-se por encalhe junto ao molhe do Clube Naval. Posteriormente, a 22-01-1975 registou-se um incêndio a bordo que só seria extinto no dia seguinte. O navio foi declarado perda total construtiva e entregue à entidade seguradora, sendo vendido à firma João Luís Russo & Filhos que procedeu ao desmantelamento no local. Registo cancelado a 24-03-1977 após demolição.
Nota: os processos de arqueação dos navios foram sofrendo alterações ao longo dos anos. Nas fichas técnicas das unidades construídas ao abrigo do Despacho 100 entre 1946 e 1955, seguiam-se as regras de arqueação britânicas, sendo os valores das respectivas arqueações bruta e líquida apresentados em toneladas Moorson."

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